O dublê e ator Bruno Santana é um desses exemplos de dedicação e empenho. Formado em teatro, pratica esportes e atua desde criança e foi na adolescência que deu seus primeiros passos na dança de rua. Logo cedo na contramão dos outros jovens, dividia seu tempo entre frequentar aulas na Casa de Hip Hop de Diadema e se dedicar a atividades físicas, artes marciais, acrobacias e até mesmo parkour. Nascido em 1989 em uma comunidade carente do Jaguaré localizada na Zona Oeste da cidade de São Paulo, ingressou profissionalmente na carreira artística gravando um comercial para a televisão com participação da atriz Julia Gam. Os contatos com as câmeras despertaram em Bruno o interesse em ser ator e, a partir daí, decidiu fazer cursos de teatro e aperfeiçoamento profissional. Na capital paulistana realizou diversos entre eles de cinema e tv e chegou a gravar algumas campanhas publicitárias. Mas em 2012 decidiu ir para o Rio de Janeiro tentar a sorte, acreditando que a cidade maravilhosa lhe proporcionaria melhores oportunidades na televisão e na telona.
Na bagagem carregava o sonho de fazer cinema e ao desembarcar em solo carioca, o paulista teve a oportunidade de ingressar em uma das mais conceituadas escolas de teatro da cidade, o ‘Instituto Nossa Senhora do Teatro’. Esse curso abriu muitas oportunidades profissionais e no ano seguinte começou a participar de um grupo de estudos teatral coordenado por Camila Amado, uma das maiores de atrizes do teatro brasileiro.
Nesse mesmo ano foi convidado para atuar no curta-metragem ‘O olhar’, de Sandra Lima e Tiago Medeiros, filme de alta sensibilidade, que aborda o racismo no Brasil . Nesse meio tempo dividiu suas atividades entre Rio e São Paulo e na TV Record gravou uma participação no programa ‘Tudo é Possível’, apresentado por Ana Hickmann. Na ocasião fez papel de um dos músicos da “Turma do Pagode”, encenando momentos da carreira dos integrantes antes da fama.
Para quem ainda não o conhece, poderia nos contar um pouco sobre o seu início na carreira artística?
Nascido e criado em São Paulo, Santana passou grande parte da sua vida na capital, onde iniciou a vida artística. Aos 17 anos, migrou para Rio de Janeiro em busca de realizar seu sonho como ator. E realizou. No início da minha carreira , estudei muito teatro , cinema, tv , fiz diversos cursos de defesa pessoal , desde os meus 8 anos de idade me considero um ninja , vivia correndo saltando de prédios entre outras loucuras que eu fazia sem minha mãe saber.
Depois do seu primeiro comercial, você se dedicou aos estudos para se aperfeiçoar como profissional. Qual a importância dessa dedicação para quem deseje se tornar artista um dia?
Os estudos vêm em primeiro lugar. Sem estudo como você vai segurar texto na hora? Estudar é fundamental para quem quer ser ator, ou dublê. Eu saia fazendo todo tipo de curso que vinha na minha frente sem pensar 2 vezes, cursos gratuitos, cursos pagos, minha mãe foi fundamental para minha carreira me ajudou muito desde do início de carreira, o artista tem que estudar, até o rei pele do futebol teve que treinar muito para ser o rei. Quando alguém me pergunta eu falo eu falo, tem que sair lendo tudo que vê na frente desde livros, poesias, assistir muitos filmes, e se dedicar o máximo.
Muitas pessoas vêm para o Rio de Janeiro buscando maiores oportunidades na televisão e no cinema. Você acredita que aqui seja um bom foco para os profissionais da classe artística?
O Rio de Janeiro é uma ilusão, eu fui mesmo para estudar com grandes mestres, fazer teatro, quando um artista me pergunta sobre o Rio, sabe o que eu falo? Termina seu curso e volta para sua cidade. Uma vez uma pessoa me ligou e me fez um convite, “Bruno eu tenho um valor x para você fazer um trabalho”, eu disse meu cachê é 50 mil, ele me respondeu que com 50 mil eu trago Fernanda Montenegro, aí eu falei se ela cobra barato o problema é dela. Temos que valorizar nosso trabalho e estudos acima de tudo.
O seu primeiro projeto no Rio foi no curta-metragem “O Olhar”, de Sandra Lima e Tiago Medeiros, que retratou o racismo no Brasil. O que você acha da importância de se abordar culturalmente esse tema? O cinema pode gerar debates em relação à essa questão?
Eu adorei trabalhar com a Sandra, na verdade esse curta eles não tinham verba nenhuma. Ela me procurou e me pediu ajuda, quando eu vi que era um curta sobre o racismo aceitei na hora, sem pensar duas vezes. Tem muita importância esse tema, o negro no Brasil é considerado bandido, em todo supermercado que eu vou, todos ficam me olhando, pensando que vamos roubar alguma coisa, temos que valorizar a cultura afro! Eu aceitei fazer esse curta porque é exatamente o que acontecia comigo. No curta é abordado esse tipo de assunto, o negro mal visto pela sociedade .
No teatro, entre as inúmeras peças que participou, tivemos “Procura-se Gentileza”, que falava sobre a vida do profeta de rua Gentileza, figura folclórica do imaginário carioca. Como foi a sua experiência nesse projeto?
Foi um processo doloroso de construção, trabalhei com muitos artistas nesse espetáculo, toda hora a gente mudava cenário, figurino, foi uma loucura, mais no final de tudo certo, o espetáculo foi um sucesso.
Coordenador e sócio do Centro de Treinamento Tático Dublês e Atores, conte-nos um pouco mais sobre como foi criação do centro em 2017.
Foi uma loucura, total, eu sempre trabalhei com muita ação, na TV GLOBO mesmo, fiz diversos trabalho envolvendo ação, eu sempre fui um artista completo, eu já tinha feito diversos cursos de tv, cinema, cursos de dublês etc. Eu sempre quis avançar mais e mais, meu trabalho fora toda essa loucura é produzir, preparar artistas para qualquer cena de ação, nessa loucura toda, um dos fundadores que é o Luiz Mosquito agarrou a causa, a partir desse dia, fundamos a dublês e atores. Aqui no centro de treinamento, temos ex-policiais de tropas especiais, preparadores técnicos da Tropa de Elite da Itália, lutadores de MMA, profissionais que você só vê pela tv. Logo de início saiamos em diversas matérias, porque hoje em São Paulo, somos a melhor equipe de dublê de ação.
Qual o papel que mais marcou sua carreira até os dias atuais?
Mary Stuart, de Schiller. Monólogo no teatro Nossa Senhora do Teatro, abriu muita minha visão em relação a ser ator, não quero ser uma estrela e sim ser um ator de verdade.