A violência nos Estados Unidos, especialmente com armas de fogo, é uma questão central no debate político. Porém, entre tantas interpretações já feitas, esta a seguir parece um tanto inusitada. O governador Matt Bevin, de Kentucky, afirmou que os massacres nos EUA se devem à influência da temática de zumbis na TV americana. “Todos os programas de TV são sobre o que? Zumbis!”, disse em entrevista ao radialista Leland Conway.
Há pouco tempo, Bevin fez outra observação nessa mesma linha. Disse que a causa da violência seria o acesso das crianças a smartphones, jogos de videogame e drogas psicotrópicas.
Questão de cultura
O governador, na mesma entrevista, aponta que a cultura pode influenciar profundamente a atitude dos cidadãos. Isso é um fato nos EUA, onde a indústria das armas exerce forte influência em diversos meios. No entanto, ele não parece fazer esse link. Além da análise um tanto superficial, tem sido criticado por não abordar outras questões fundamentais nesse contexto, como o próprio porte de armas.
Bevin não chegou a mencionar os recentes massacres nos EUA, que têm assustado a população. Em outubro, um atirador matou 11 pessoas dentro de uma sinagoga em Pittsburgh; pouco antes, 12 pessoas foram mortas em um bar na Califórnia. E, há cerca de 1 ano, houve um grande massacre durante um festival de música country em Las Vegas.
Fascínio por zumbis
Muito além de tema central de séries e filmes, os zumbis carregam um história importante de ser contada, que ganhou destaque na BBC Culture. A origem da palavra está associada a religiões da África Ocidental, que foram dispersadas e misturadas durante os horrores da escravidão.
No Haiti, o termo zumbi está associado a uma presença ameaçadora, espiritual, que se manifestaria à noite. Os feiticeiros também teriam o poder de se apossar de uma pessoa por meio da magia, a escravizando com o vodu.
Além disso, os colonizadores ficaram realmente assustados com a rebelião de 1791, que os derrubou. Só depois da invasão dos Estados Unidos no país é que as histórias de zumbis começaram a se popularizar por lá, no início do século XX.
Ou seja, há uma raiz desse fascínio americano por zumbis que envolve disputa de território, medo de rebelião e racismo. Mas a leitura da Bevin sobre os massacres nos EUA está bem longe de alcançar tal profundidade.