Bia Borinn fala sobre retorno de “Experimentos Extraordinários” na televisão

Bia Borinn está de volta às telinhas na reestreia da série Experimentos Extraordinários, que agora será exibida pela TV Cultura. Gravada em 2014 e exibida na época no Cartoon Network e depois no Netflix, o folhetim infanto-juvenil tem como objetivo retratar os bastidores de um programa de TV sobre experimentos científicos caseiros. Interpretando a vilã Úrsula, Bia comemora a volta do seriado, especialmente em um momento delicado que estamos vivendo por conta do coronavirus.

Formada em Artes Cênicas pela Universidade de São Paulo, Bia tem um vasto currículo que incluem atuações em comerciais, longas, e também como apresentadora. Entre 2008 a 2009 comandou seu primeiro programa ao vivo, o “HitTvê”, na Rede TV!. Em 2011 aconteceu um grande marco na sua vida, como ela mesma descreve, quando foi para Inglaterra estagiar por dois meses com um dos maiores dramaturgos da história do teatro inglês, Alan Ayckbourn. Teve aulas com Harold Guskin, preparador de nomes como Bom Jovi, Glenn Close e James Gandolfini, já deu aulas de teatro, preparou crianças para comerciais de TV é sócia fundadora do ‘Brazilian Play and Learn’, escola de português e cultura brasileira em Los Angeles e, ao lado do marido, comanda o Podcast ‘História de Boca’, projeto criado em 2019 que traz histórias narradas para o público infantil e que já conquistou crianças de 39 países.

Sendo reprisada na TV Cultura, a série “Experimentos Extraordinários” voltou às telinhas no final do mês passado. Como está sendo reviver esses momentos como a vilã Úrsula?

Está sendo muito especial! Principalmente porque quando gravei meu primeiro filho e tinha 2 anos. Agora, com 8 anos, ele viu o primeiro episódio e disse: “Então quando você fica brava comigo você vira Úrsula, mamãe!”

A série acabou voltando em uma época delicada do mundo, qual a importância de trazermos esse tipo de programação para as crianças na época de quarentena?

Precisamos sempre de conteúdo de qualidade para crianças e adolescentes, ainda mais agora, pois eles são “sugados” para a internet, com coisas como “unpacking” – que não trazem absolutamente nada de bom. “Experimentos Extraordinários” traz uma mensagem de superação, enaltece a curiosidade, a ciência e a amizade, de maneira inteligente e muito divertida. Além do mais, está numa emissora aberta, democratizando o acesso a todas as camadas da sociedade. Outra coisa que é legal é que o conteúdo é semanal, ou seja: o público tem que esperar até a outra terça para ver o próximo episódio! Como no meu tempo! Isso é exercitar a paciência, coisa que no conteúdo “on demand” não existe.

Sendo uma produção de origem 100% brasileira, você acha importante que canais como o Cartoon Network, que antigamente exibia o folhetim, estivessem interessado no nosso conteúdo nacional?

A série foi a primeira LIVE ACTION do Cartoon Network no Brasil. Foi, e é, um marco no audiovisual para este público! Uma série com 26 episódios de 30 minutos. Não é pouca coisa! Mas devemos lembrar que, além dos canais, o governo é responsável por fomentar e criar oportunidades para a nossa indústria, deveria investir cada vez mais pois, além de conteúdo, gerando mais de 300 mil postos de trabalho, movimenta mais que 0,5% do PIB (e poderia ser muito mais), algo em torno de 43 bilhões de reais. Então, achar que artista “mama” no governo, é um absurdo.

Em uma declaração que você deu, foi afirmado que os jovens estariam consumindo mais quantidades de conteúdo online nesse momento, e também chamou atenção para a qualidade. Qual é a sua opinião sobre as histórias que são exibidas para as crianças na mídia atualmente?

Tem coisa muito boa e nacional, como “Irmãos do Jorel”, “DPA”, “Manual do Mundo” (no YouTube), e outras animações como “Trem Infinito”… E os clássicos como “Cocorico”, “Peixonauta”, “ Show da Luna” para os pequenos. Sempre tem coisas muito boas. Mas tem a questão de os pais saberem o que as crianças estão vendo e conversarem sobre os temas abordados. Antigamente existia uma televisão só, então todo mundo sabia mais ou menos o que todo mundo via. Agora cada um tem o seu device. Mesmo com parental control acho importante o diálogo, a troca entre crianças e pais, para todos crescerem juntos e criarem laços.

Qual é o significado de ter feito essa série para sua carreira?

Foi o primeiro conteúdo que fiz na TV com um personagem que participa de toda a história. Minha primeira protagonista. Antes fiz apenas participações em novelas e outros programas. Acho que nunca “corri atrás” de estar na televisão porque o teatro sempre foi prioridade para mim. Então, quando aconteceu de pegar o papel, ainda mais com uma equipe tão bacana, foi muito especial.

Além de atriz, você teve alguns trabalhos como apresentadora, sendo o “HitTvê”, seu primeiro programa ao vivo na Rede TV!. Sente saudades da época do programa?

O HitTvê também foi muito especial pois eu não tinha noção do que era apresentar um programa ao vivo, com entrevistas, números musicais… ainda bem que tinha o Luciano Amaral que tem muita experiência e que é história da televisão brasileira! (Risos) aprendi muito. Teve um dia que perdemos a comunicação com o diretor pelo ponto, o teleprompter caiu… e tudo ao vivo! Uma delícia! Eu adoro improvisar, então foi aquela emoção! Tenho saudade de apresentar ao vivo. E a equipe também era maravilhosa.

Em 2011, teve um grande marco na sua carreira, assim como você mesmo descreve, que foi seu estágio de dois meses na Inglaterra. Como foi passar esse momento com o dramaturgo Alan Ayckbourn, e ainda ter aulas Harold Guskin, que anteriormente já havia preparado vários nomes de Hollywood?

Conhecer e aprender no dia a dia com estes mestres é uma oportunidade única. Com o Ayckbourn aprendi como um grande diretor “rege” uma sala de ensaio sem violência ou imposição, deixando um ambiente maravilhoso, leve, propício para a criação. Os atores sentem a confiança e criam com liberdade e alegria, mesmo quando as cenas são difíceis ou complexas. Com o Harold eu entendi o quanto é fundamental o ator estar presente para criar – e não querer agradar ninguém. Quando a gente quer agradar, já era. Este anarquismo do ator é fundamental para a qualidade do trabalho. Eu não estou falando de anarquismo como desrespeito ao diretor ou ao texto. Mas de ultrapassar a nossa zona de conforto como atores. Estas duas experiências mudaram meu ponto de vista, pra sempre.

Entre seus projetos está a sua escola de português e cultura brasileira chamada “Brazilian Play and Learn”. De onde veio a ideia de criar a instituição, e como funcionam os estudos?

Eu sou mãe de dois meninos que estão crescendo nos EUA e quero que eles falem português e se sintam brasileiros. Que valorizem nossa cultura. E como sou atriz, foi muito natural fundar o BPL com minha colega de faculdade de teatro que também mora na Califórnia, a Mariana Leite. Lá, além de ensinarmos português como língua de herança (as crianças aprenderem a ler e a escrever em português), enaltecemos a nossa cultura, fazemos eventos para a comunidade como Carnaval, Festa Junina, Dia das Crianças… tudo para envolvemos as famílias expatriadas (e seus filhos) e fomentamos o contato com a brasilidade (e tentarmos abraçar as diferentes tradições do Brasil).

Quais são os seus planos para o futuro pós-pandemia?

Abraçar todo mundo, viajar e fazer teatro! (Risos). Estou escrevendo uma micro-série exclusiva para o IGTV sobre uma brasileira que mora em Santa Mônica. Acho que o Brasil ainda é muito estereotipado em Hollywood e no imaginário dos americanos em geral. Quero fazer conteúdo lá e no Brasil, quero poder trabalhar nos dois lugares. Quero encontrar meus amigos, quero meus filhos brincando na natureza. E quero fazer ainda mais trabalho voluntário.