Cícero fala sobre “Cosmo”, quinto álbum da carreira

Após quatro álbuns, o premiado “Canções de Apartamento” (2011), o experimental “Sábado” (2013), o solar “A Praia” (2015) e o urbano “Cícero & Albatroz” (2017), com turnês que rodaram o Brasil e a Europa, o músico e produtor carioca lança seu quinto álbum, intitulado “Cosmo”.  Não por acaso, a trajetória discográfica de Cícero, que começou em um pequeno apartamento e saiu, pelas ruas, praias e cidades, encontrou na ideia do Cosmo a ilustração poética e musical perfeita para a imensidão das novas questões do artista.

Novamente composto, arranjado e produzido pelo próprio Cícero, o novo disco foi, dessa vez, gravado entre Brasil e Portugal, em diversos estúdios e com diversos músicos dos dois países, ampliando assim, ainda mais, o leque de sons da já rica obra de Cícero. Membro fundamental da, nacionalmente e internacionalmente, mais reconhecida música popular brasileira surgida na década passada, Cícero segue construindo com Cosmo seu nome e obra no imaginário coletivo de sua geração e das próximas.

Após os quatro álbuns: “Canções de Apartamento” (2011); ”Sábado” (2013); “A praia” (2015); e “Cícero & Albatroz” (2017). O que podemos esperar do lançamento intitulado “Cosmo”?

É uma continuação da linguagem que venho desenvolvendo ao longo dos discos. Partindo dessa temática expansiva da idéia do Cosmo, compus e arranjei as novas canções. É um disco mais expansivo nos arranjos e temáticas.

As turnês rodaram o Brasil e a Europa, teremos outras paradas pela frente ainda?

Vou esperar passar a pandemia para voltar a planejar essa parte, mas sim, a idéia é ir a países onde ainda não fui e a estados brasileiros que ainda não fui também.

As músicas vão percorrendo a imensidão da natureza humana sob a ótica de um indivíduo. Conte-nos um pouco sobre como chegou nessa filosofia?

Me interessando por questões planetárias. Como nossa água, nosso ar, nossa civilização. Morei em 2019 em Portugal, bem longe do Brasil fisicamente, então me conectei com questões maiores, que incluíssem tudo e todos.

O álbum tem a imagem de um céu, como foi a escolha da capa?

Queria uma ilustração dessa perspectiva que o disco tem e numa visita ao Museu de Van Gogh, em Amsterdam, vi um quadro que era um autorretrato. Van Gogh pintado por ele mesmo, num quadro, numa parede, com o nome dele escrito ao lado. O nome do quadro era “autorretrato” e isso me deu um estalo de que basicamente é isso que o artista faz: Autorretratos. Por mais que nem sempre se fale de si mesmo, por mais que ele pinte árvores, cadeiras ou prédios. Voltei com a vontade de apontar para mim mesmo dentro do todo, do Cosmo. Então pensei na idéia da moldura no céu e do meu nome do lado de fora. Como se aquele quadrado no todo fosse a pequena parte que me cabe, que me expõe, no todo.

Fale um pouco sobre a história de “Some Lazy Days”, “Nada ao Redor” e “Falso Azul”.

Some Lazy Days eu fiz em homenagem ao guitarrista que toca comigo, Gabriel Ventura, e à mulher dele, Emilie. Eles moram na Tijuca e são um casal pelo qual tenho muito carinho. Quis fazer uma canção carinhosa sobre eles. Nada ao redor é uma canção que quis fazer contextualizando o sentimento que tenho desde sempre de que não há nada no final das minhas reflexões. O ponto de chegada é um enorme vazio, mas isso não é necessariamente ruim. E Falso Azul veio de mil lugares, é uma música que fiz querendo falar de tudo. A própria idéia de uma cor falsa… não existe cor falsa. Se você vê, ela existe. Mas por exemplo o azul do céu ou do mar, ele não está lá, é uma miragem. Se você subir ao céu você não acha o azul, ele está nos gases do ar, a água idem, não é azul. É sobre delírio, sobre como tudo é um delírio, até nossa idéia de que estamos num chão. 

Deixe uma mensagem.

Espero que essa fase difícil da humanidade passe e que a gente tenha aprendido algo importante com isso.